Apicultura: uma economia e política em ascensão; uma alternativa para sociedade.
Como as inovações no meio corroboram para fazer do Brasil uma potência emergente na produção de mel.
O mel está presente
nos hábitos alimentares nacionais das mais variadas formas e períodos,
seja na gastronomia do século
XXI, seja nas etnias indígenas há 500 anos, como descrito por José de Alencar
em Iracema na passagem em que a protagonista trouxe o resto da caça, a farinha-d’água,
os frutos silvestres e os favos de mel […]
para melhor acolher o estrangeiro europeu (nessa citação, é posível notar que, mesmo
no ideário da sociedade oitocentista, a concepção da abrangente culinária
nativa já era intrínseca). No entanto, a matéria para a possível bebida mais
antiga do mundo, o hidromel, consumido há cerca de 10 mil anos, não tem todo o
potencial valorizado em contexto nacional pela anômala instrução dada aos
produtores e pelo fomento incipiente no território, ainda que sua
comercialização possa minimizar as dificuldades ambientais e sociais do país.
Diante desse cenário, segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística
(IBGE), em seu último censo (2021), a
produtividade por colmeia/ano é de 19,8 quilogramas, enquanto em outros países,
como Canadá e Austrália, chega-se a 90 Kg/ano. Dessa forma, tais dados
ressaltam a precariedade nacional em otimizar a produção, embora haja 3 milhões
colmeias e 101 mil produtores no Brasil, gerando 45.000 toneladas por ano,
dado que torna o país o 11º maior produtor. Contudo, ainda que haja a
disparidade entre produtividade e produção, nota-se que a emergente vertente da
economia possa ser otimizada, porém, ainda há dilemas a serem
solucionados.
Por ser um mercado emergente, recentemente, tem-se atentado
para a questão, com novas políticas públicas que viabilizam a produção de mel.
Dentre as iniciativas está o projeto de Lei 2341/19, a Política Nacional de
incentivo ao desenvolvimento da apicultura aprovado em 2019 pela Comissão de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. No entanto, muito ainda se deve
melhorar para que atinjamos o potencial máximo. Desse forma, deve-se ressaltar que nenhuma
vertente nacional independe da agricultura, haja vista a importância econômica
advinda da atividade, porém, em igual importância, deve-se estabelecer que a
agricultura não é à parte da natureza:
todos os mecanismos são integrados em uma simbiose econômica, sendo o meio
ambiente fundamental para que todos os
outros sujeitos desempenhem a função. A apicultura, não somente pode ser um
alicerce econômico, como também um mediador ambiental.
O mel como sustentabilidade
O mel possui várias substâncias que contribuem para a saúde
e, por conseguinte, em um período pandêmico, no qual o cuidado da saúde faz-se
essencial, a sua procura aumentou, porém, pouco sabe-se das características da
sua produção. Nesse aspecto, vários são os emblemas enfrentados pelos
apicultores, fazendo seu negócio sucessível tanto à seca quanto ao estresse
hídrico - período pelo qual há chuvas exacerbadas. Isso faz com que a sua
comercialização tenha margens de lucro inconstantes, embora o preço, muitas
vezes, fique estagnado. Assim, questões como aquecimento global são motivo de
preocupação dos produtores.
Para tangenciar o problema eminente, o Piauí, referência na
produção de mel, adotou medidas para profissionalização dos cidadãos, bem como
ofereceu-lhes o maquinário. Dessa forma, os indivíduos contribuem para a
preservação ambiental - visto que precisa-se do cultivo de flores para que
haja os grãos de pólen - , bem como
minimiza-se a característica nacional de marginalização dos que se encontram em
vulnerabilidade, reduzindo a pobreza institucionalizada pela negligência no
Brasil, como relacionado por Florestan Fernandes em seu livro A integração do negro na sociedade de
classes: No limiar de uma nova era.
Outrossim, vale
ressaltar que na Caatinga, por ser um bioma de clima semiárido , há
diversas dificuldades para que a lavoura gere renda, contudo , a produção de
mel foi favorecida pela flora acostumada à seca. Dessa forma, a apicultura, por
naturalmente atuar como agente
ambiental, proporciona consciência ecológica aos produtores, ao
introduzir consciência ambiental aos que anteriormente, na monocultura,
utilizavam de veneno e do desmatamento para atingir a produção almejada.
Nota-se, portanto, que a apicultura pode vir a ser importante vertente da economia do futuro, haja vista o desempenho equitativo socialmente e potencializado ambientalmente. Assim, estados como o Piauí são referência para que se construa uma economia voltada para duas vertentes, muitas vezes, desprezadas: a insegurança social e a degradação do meio ambiente.
–
Maria Fernanda Veiga
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